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Sejam bem vindos ao Meu Mundo Subjetivo!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Blogagem Coletiva da Irene Moreira 20ª Edição













Naquele dia mamãe estava diferente. Seus olhos estavam tristes. Seu rosto sem luz. Falava pouco, apenas o necessário.
Eu já havia visto seu rosto sem a luz da alegria outras vezes. Mas naquela manhã me pareceu especialmente diferente.
Não imaginava o que poderia tê-la deixado tão apagada. Mamãe tinha jeito de rainha: jovem, alta, magérrima, cabelos cor de mel. Era a imperatriz de nossa casa. Dava ordens, fazia tudo que devia fazer. Sua vida era a família e o lar. Cuidava para que todos estivessem bem. Altamente organizada, dificilmente as coisas saiam erradas.

Eu sempre era convocada a ajuda-la na tarefa de tirar as roupas do varal. Eram momentos maravilhosos. Geralmente ela sorria, contava histórias ou anedotas. Minha mãe tinha um brilho especial.
Papai sempre dizia que um dia eu seria como ela e o deixaria  de cabelos brancos.
Ouvia tudo maravilhada. Não sabia o que diabos ele queria dizer. Só achava engraçado.
Hoje entendo, mesmo depois de três filhos e está próxima dos quarenta anos, na foto acima, mamãe continuava bela. Atraia atenção. Não tinha a intenção. Mas sua beleza falava mais alto e meu pai morria de ciúmes.
Acho que ele jamais percebeu a imensidão do amor que ela tinha por ele. Como nunca percebeu que ela jamais o magoaria.
Nunca viu os olhos dela tão tristes quando viajava e ficava ausente tanto tempo.
Seu olhar se iluminava ao vê-lo chegar e receber um abraço cheio de saudades e tanto carinho.
Havia tempo que ele foi em viagem de trabalho e nenhuma notícia se recebia. Mamãe disfarçava mal. Meus irmãos mais velhos nem percebiam, já eu, sentia sua aflição pela demora dele e a ausência de notícias.
Ela andava menos falante, menos sorridente. No entanto, naquela manhã sua tristeza era diferente.
Anos depois fiquei sabendo, ele não iria mais voltar. Arranjou nova família numa cidadezinha ao sul do estado e lá tinha mais dois filhos: um casal.
Infelizmente, papai nunca a amou da forma que ela merecia e (por outro lado) ela jamais o esqueceu.
Aos poucos seu sorriso voltou, mais seguro e maduro. Nos seus olhos era possível ver uma alegria diferente, sem tanta inocência. E o seu rosto permanecia lindo, indiferente aos anos que se passavam.
Mamãe estava cada dia mais linda, mais elegante, charmosa e educada. Também  mais amável e cuidadosa. Uma mulher extremamente admirável.
Papai estava certo, cada dia me sentia mais parecida com ela. Em tudo, inclusive na dedicação à família.
Nossos momentos de apanhar as roupas no varal aos poucos voltaram a ser alegres. Falávamos de tudo, menos de um assunto: a saída de papai de nossa casa. Nunca quis deixa-la triste. Por isso sempre evitei esse assunto.
O tempo passava e nossas vidas seguiam como as roupas que são colocadas para secar no varal. O vento soprava e o sol aquecia, secava as roupas que depois eu e mamãe apanharia.




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